segunda-feira, 8 de junho de 2009

ESTRAORDINÁRIA LIBERDADE

O Deus que não habita em templos feitos por mãos humanas e se relaciona com todas as pessoas com base em sua boa vontade autodeterminada – graça, quer ser conhecido em toda a terra. Esse Deus se revela a partir de um povo, o hebreu – descendentes de Abraão, e de uma estrutura religiosa – o judaísmo, que privilegia pessoas, lugares, dias e atividades próprias da relação com Deus e necessárias para aplacar sua ira e conquistar seu favor. Mas “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados [...] Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2Coríntios 5.19,21). Desde então, a base da relação com Deus deixa de ser a descendência da etnia hebraica e a observância da Lei judaica, e passa a ser a graça: o favor concedido sem merecimento. Ninguém precisa mais obedecer a Deus e cumprir obrigações para com Deus para escapar de sua condenação e se tornar objeto de seu amor, pois todo aquele que deseja se relacionar com Deus com base em méritos pessoais, não apenas ignora a Cristo como também dá as costas à graça” (Gálatas 5.4). 

Mas Pedro, apóstolo, ainda raciocina em termos de “isso pode, aquilo não pode; essa pessoa é pura, aquela é impura; isso é de Deus, aquilo é do mundo-mal”. Não assimilou a extraordinária liberdade que diz “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma [...] Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam” (1Coríntios 6.12; 10.23). 

A liberdade concedida pela graça é escandalosa. Agora a Lei perdeu a voz; ninguém mais é obrigado a cumpri-la, pois Cristo Jesus o fez por todos: “Agora já não há nenhuma condenação para os que estão unidos com Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito de Deus, que nos trouxe vida por causa da nossa união com Cristo Jesus, nos livrou da lei do pecado e da morte. O que a Lei de Moisés não pôde fazer porque a natureza humana era fraca, Deus fez. Ele condenou o pecado na natureza humana, enviando o seu próprio Filho, que veio na forma de nossa natureza pecaminosa para acabar com o pecado. Deus fez isso para que as obras justas da lei pudessem ser cumpridas por nós, que vivemos de acordo com o espírito de Deus e não de acordo com a natureza humana” (Romanos 8.1-4 - BLH). 

Este é o grande segredo revelado a Pedro, apóstolo, em seu encontro com o gentio (não hebreu, não judeu) Cornélio: o Espírito Santo foi derramado sobre toda a carne (Atos 10.44-48). Antes a relação com Deus era governada pela Lei, agora, pelo Espírito. Antes Deus governava pessoas de fora para dentro, pela Lei, agora, de dentro para fora, pelo seu Espírito Santo conectado ao espírito humano; antes as pessoas viviam de obediência, agora vivem de uma nova consciência. O que a Lei jamais conseguiu fazer, o Espírito Santo realiza. Agora vivemos de acordo com a boa, perfeita e agradável vontade de Deus, não porque tememos a condenação ou ambicionamos favores, mas porque seu Espírito Santo habita em nós e nos deu uma nova disposição de vida. 

Conforme bem compreendeu Roland Allen [Missionary Methods: St Paul's or Ours? London: World Dominion. 1912] em Atos dos Apóstolos “Lucas fixa nossa atenção, não numa voz externa, mas num Espírito interno. Essa forma de ordem é peculiar ao Evangelho. Outros (guias espirituais) dirigem a partir de fora, Cristo de dentro; outros ordenam, Cristo inspira (…) Essa é a forma da ordem nos escritos de São Lucas. Ele não fala de homens que, sendo o que eram, esforçam-se para obedecer as últimas ordens de um mestre amado, e sim de homens que, recebendo um Espírito, foram impelidos por esse Espírito a agir de acordo com sua natureza”.
Ed René Kivitz

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