HISTÓRIA


EU.


Quando eu nasci não houve nada de especial;



Tudo continuou como sempre foi o sol não parou, ninguém ouviu o som de sinos, havia apenas um médico satisfeito por ter trazido mais um ao mundo e uma mulher feliz. Minha mãe.



Essa felicidade não durou muito logo ela me levou para casa, bem, e daí só ela mesmo para contar.

Minhas tias dizem que até que eu era comportado, bastava ver dois braços abertos e logo trocava de colo, mas quando tentavam falar comigo, logo franzia a testa, fechava a cara e me calava.

Não tenho recordação da época não, acredito que minha cabeça acabou envelhecendo de mais para voltar tanto tempo assim. 

Gosto de ouvir sobre minha infância.

Enquanto vivenciamos cada dia de nossa infância nem nos damos conta de como são importantes, depois aí sim, paramos para refletir e vemos o quanto fomos formados nessa época.

Acabamos por receber informações acredito que bem maiores que a carga genética transferida na fecundação, é tão forte a criação, não aquelas coisas faladas de maneira interminável que a gente cansa de dizer: “TA BOM MÃE JÁ FALOUUUUU” mas aquilo que se aprende nas entre linhas, nas ações, nas atitudes, e isso tem tanto peso porque passa a fazer parte da nossa verdade, da verdade que somos nós e que só nós conhecemos, e que as vezes tentamos fugir e não conseguimos.

Eu queria ser engenheiro.

Eu tinha medo de me casar.

Eu tinha muito medo de ter filhos.

Eu tentei não repetir muitos erros de meus pais.

Não consegui todos.

Fracassei.

Sempre gostei de ser amado, querido, desejado, aplaudido.

E sempre lutei muito para conquistar isso, sempre me dediquei, para que tal prazer não fosse de graça, mas para que eu soubesse que era verdadeiro.

Conquistei, não foi unânime não, uma pena, talvez a história tivesse outro caminho.

Cansei quando não podia cansar, desisti quando não podia desistir.

Em dado momento vi que ser vilão é melhor, eles acabam sempre se dando bem no final, menos nos filmes.

Depois percebi que os filmes são retratos da verdade.

Há certos dons que recebemos, que nunca pedimos, mas estão ali, martelando, cobrando, querendo sair.

Há certas feridas que não queríamos causar, mas acabam sendo inevitáveis, essas chagas que ficam abertas na alma, doem, doem demais. 

Não há remédio que as cure, não há perdão que restaure nem tempo que a cicatrize.

Amizades são chumaços de algodão, vezes servem de conforto para a cabeça e outros como curativo das feridas. Feliz de quem as tem.

Ser homem não é nada fácil não, ter responsabilidades torna a tarefa mais complicada ainda, até fugir eu fugi, fugi de mim mesmo, tentando me encontrar, tentando resgatar o elo que se rompeu e ai não há culpados a apenas conseqüências.

Todas as noites eu entro em mundo particular, um mundo que é só meu, às vezes acontece umas coisas estranhas e esse mundo acaba invadido, até parece sonho. 

Estou aqui, aqui sozinho, a aproximadamente 500 km de um passado, que bom ou ruim é passado, a 500 km de uma realidade que me aquece o coração e faz aflorar um dom que se debate para não morrer, a 500 km de um futuro que ainda tem suas páginas em branco.

E eu?

Eu sou Reinaldo Rodrigues, um homem, apenas isso um homem com seus conceitos, pré conceitos, seus ideais, sua fé, seus sonhos e planos. 

Um homem de meia idade com suas chatices, neuroses, loucuras, emoções, sentimentos, fruto de 42 anos. Um homem que ama Jesus incondicionalmente, eu amo Jesus, amo esse Cara, Suas idéias, amo Sua visão da fé, do reino e do homem.

Sou uma pessoa cheia de fé, não a fé que cura minhas doenças externas, mas que sara as entranhas e me torna mais novo a cada dia, como meu avô que eu tanto amava, Deus não o curou, não o curou porque não quis, isso Ele não quis, mais isso nunca fez diferença para ele porque seu interior permaneceu renovado até o fim pelo Espírito Santo de Deus. 

Esse sou eu.

Muito prazer.


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MORRI DUAS VEZES E VIVO  MINHA TERCEIRA VIDA



Em 1985 tive uma morte anunciada, tudo porque não soube canalizar minhas experiências com Deus e com o evangelho, eu estava em um crescente envolvimento em minha vida religiosa, com algumas atribuições eclesiásticas a nível local e no presbitério, a instituição em que eu estava envolvido era a Igreja Presbiteriana Renovada, naquela época ainda bem fechada e comandada por um cem número de caciques, não sei hoje como anda, discordar da metodologia de um amigo, ao qual considero meu pai na fé, foi o estopim para uma perseguição que culminou na minha exclusão da instituição, isso porque se é difícil “ganhar” uma vida para Cristo, manda-la embora é muito simples e tudo dito em alto e bom som diante de toda congregação.
Naquele momento pensei que sucumbiria a dor da separação de pessoas tão queridas e tão próximas, mas não há nada que o tempo não cure.
A partir desse momento aprendi que o tempo não é nosso inimigo mas sim nosso aliado, e que no momento certo as coisas acontecem, e se acontecem como queremos ou não, sempre serão para nosso crescimento.

Em 2004 enfrentei a segunda morte, tudo porque não soube canalizar minhas experiências com Deus, o evangelho e minha história particular de vida, a ingerência afetiva, o descuido familiar, as muitas atribuições eclesiásticas em uma nova instituição religiosa, agora a Igreja Missionária Central, culminaram em meu enfraquecimento e morte. Após estar em posição de destaque e debaixo de elogios e das mais calorosas demonstrações de afeto, experimentei um funeral sombrio e solitário, restaram poucos, quem sabe aqueles que conseguiram extrair mais do que aparências em tudo aquilo que me dediquei a fazer no meio deles.
Naquele momento pensei que sucumbiria a dor da separação de pessoas tão queridas e tão próximas, mas não há nada que o tempo não cure.
O tempo tem passado mas ainda não cicatrizou completamente feridas que são muito mais que lembranças, porque ainda consigo me lembrar de vários rostos, ainda sei da história de muitos deles, lembro-me de momentos dedicados, lágrimas derramadas, nada em vão, porque eu cresci, cresci enquanto ouvia cada um dos seus problemas, cresci enquanto entabulava um conselho, ou quanto assistia no momento de dor e sofrimento, na angustia da desilusão, nos conflitos relacionais, nas duvidas ministeriais, ainda tenho o nome de todos que batizei, de muitos ainda tenho foto, quando leio esses nomes o semblante delas me vem a mente e todos os momentos em que vivemos juntos e experimentamos a vivencia de um evangelho que não mais encontrei por onde andei.

Mas nasci novamente e estou quase pronto para recomeçar, porque não posso ficar calado diante de tudo que ouvi e vivi, tenho muito ainda a ensinar e muito mais experiência, talvez não de como fazer, mas de como não fazer, isso sim com toda certeza.

Quem viver vera.


Sola gratia.

Reinaldo.


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DISTANTE DE MIM


Há alguns anos atrás. Há alguns dias atrás, há algumas horas atrás, há alguns minutos atrás, eu jamais poderia imaginar viver o momento que vivo agora, nunca imaginei estar tão só, jamais pensei que veria amigos passando de largo, jamais pensei que me sentiria tão só, mas escrevo essas coisas não como quem reclama, mas com uma frustração pessoal, nada contra ninguém, mesmo porque não estou nem ai com o que pensam sobre mim, afinal o que pensam sobre mim é problema de quem pensa, eu vou fazer o que?

Quando encontro algumas pessoas as quais estiveram tão próximas, das quais tratei com tanto desvelo e atenção, temos conversa que eu não gostaria de ter, algo muito informal, todos tem vontade de me encher de perguntas mas ninguém tem coragem, melhor assim não quero e não preciso expor minhas razões, não me considero vítima do acaso ou do destino, sei muito bem dos meus erros, mesmo assim sujeito-me ao crivo insano dos que chamam para si o direito de me julgar.

A vida passa muito rápida diante dos meus olhos, vivo cada dia sem me dar conta que ele esteve ali, sinto um peso enorme sobre os ombros, um vazio, uma grande lacuna, reticências intermináveis no meio da minha história, não somos só emocionais, nem só racionais, como cheguei a imaginar, somos humanos e não há explicações, cada um é um ser diferente do outro em particular, reagimos diferentemente às mesmas situações, experimentamos sensações antagônicas sobre pessoas e situações, a vida é um show eu e você artistas principais no palco da existência, sucesso e fracasso andam lado a lado, alegrias e tristezas companheiras inseparáveis, felicidade e infelicidade são apenas pequenas paradas durante a caminhada.

A alegria, a tristeza, a felicidade, a infelicidade, a dor, a perda, o amor, o sucesso, o fracasso, nenhum desses sentimentos devem nos qualificar, afinal são inerentes a cada um de nós, ninguém é definitivamente, e não é a fé que pode mudar isso, com certeza a fé é um forte suporte na compreensão de nós mesmos e de alguns porquês, mas não pode garantir a esse corpo falido o completo sucesso ou plena felicidade, pelo menos não aqui.


Reinaldo


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NÃO SOU QUALQUER UM.



Quando afirmo que não sou qualquer um não quero de maneira nenhuma dizer que sou mais ou melhor do que qualquer outro, sei apenas que o que carrego dentro de mim não é para qualquer um.
Aprendi a viver na solidão.Minha paixão é diferente, olho hoje a minha volta e o que vejo são vultos, vultos de pessoas que amei profundamente, pessoas pelas quais fui capaz de deixar minha cama vazia e fria para socorrer, pessoas pelas quais abri mão do convivio de meus filhos de minha família para dar atenção e socorrer, mas assim é o dom que me foi dado nao por merecimento ou escolha mas sim por eleição.
Aprendi que nem sempre serei aplaudido por minhas decisões, por minhas escolhas, mas sempre soube que não poderia e nem deveria agradar a todos, mas tarde eu li o que John Kennedy disse: "que o segredo do fracasso é tentar agradar todo mundo". Nunca quis isso, mas sempre busquei fazer o melhor para atingir a todos e nunca medi esforços para alcançar esse objetivo, não dei preferências nem fiz concessões, nem tao pouco arruinei a vida daqueles que até queriam uma pena para aplacar suas culpas, pelo contrário fiz sempre questão de lhes acenar com a misericórdia e o perdão. 
Aprendi que a crítica faz parte da vida daqueles que sem medo assumem sua posição e dela não se desmovem enquanto seguro de suas convicções.
Aprendi que ter recebido tal dom não me revestiu de nenhum tipo de imunidade, nenhuma força extra, mas como todos eu também era mais um, sempre me vi não como servo daqueles que andavam comigo, porém era sim servo da visão que nos tornavam um só povo e dessa forma eu os servia como quem serve a visão que é maior que pseudos títulos possam rotular e afastar líderes de liderados.
Nunca me senti capaz de tal tarefa, mas sempre soube de onde veio graça e força.
Eu estava ali para transmitir esperança, e o fiz;
Eu estava ali para transmitir conforto, e o fiz;
Eu estava ali para  servir de apoio as pernas tropegas, e o fiz;
Eu estava ali para dar alento ao que sofria, e o fiz;
Eu estava ali para profetizar, e o fiz;
Eu estava ali para fazê-los sonhar, e o fiz;
Eu estava ali para fazê-los desejar mais, e o fiz;
Eu estava ali para curá-los, e o fiz;
Mas eu também os feri, nunca quiz fazer isso, nunca desejei fazer isso, melhor seria ter experimentado a morte física do que experimentado a rejeição.
É como se tudo de certo tivesse sido invalidado e ao contrário do que sabemos não é o perdão que cobre a multidão de pecados, mas o pecado sobrepõe todas as tentativas de acertar.

Porque os dons e a vocação de Deus são irretratáveis. Romanos 11:29


Sola gratia


Reinaldo



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