domingo, 21 de fevereiro de 2010

SACRIFÍCIO FILIAL


Meu pai se separou da mãe quando tinha sete anos. A saudade apertava. Tanta saudade que conversava com as roupas dele. Criava diálogos imaginários com seus bonés, com suas gravatas, com suas camisas listradas. Eu me trancava no armário, dormia entre seus casacos, o desespero brinca com qualquer lembrança, eu entendia que dormir ali significava subir de novo em seu colo.

Mas minha mãe não me contou que o casamento dos dois acabou. Ficou no ar. E não perguntava para evitar o choro. A dor nos proíbe de falar certos assuntos.

O que ouvi é que o pai simplesmente viajou. Havia a expectativa de que ele pudesse voltar a qualquer momento. A qualquer hora. Como uma loucura que se cansa. Como um trabalho que se termina. Até hoje olho a porta por hábito, minha esperança não é de um homem, mas de um cão. Farejo as frestas e vou latir para a campainha.

Replicado:Pavablog

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