terça-feira, 13 de abril de 2010

APRENDENDO A VER













Andei questionando-me a respeito da evangelização. Não que eu pense que ela não é eficaz. Com certeza vamos ouvir diversos testemunhos de pessoas que tiveram suas vidas salvas porque, inesperadamente, ouviram alguém falar de Jesus. Porém, comecei a pensar naquelas tantas outras pessoas que não se encontraram com o amor do Cristo porque foram invadidas em sua individualidade a partir de um discurso prepotente de alguém que, mesmo sutilmente, quis impor a verdade do evangelho.
Toda imposição de verdade é uma violência contra o outro. Não há quem não tem uma história de vida cujo percurso concedeu a essa pessoa verdades que lhe são próprias e valiosas. No fundo, no fundo, em toda discussão de aspectos subjetivos haverá sempre a palavra de alguém contra a palavra de outro alguém. Uma disputa de verdades em que ninguém pode provar seu ponto de vista sem apelar para sua experiência particular. E nesse jogo diabólico, encontram-se duas pessoas em fogo cruzado com grande possibilidade de se machucarem afastando-se uma da outra. Não há nada aí muito próximo de amar o outro com o amor que Cristo nos ama.
Pensei em duas hipóteses. Na maioria das vezes, encontram-se pessoas que se sentem ofendidas e querem impor-se como senhoras do que é correto, donas da verdade, portadoras da real mensagem de salvação. Porém, também acho que, muitas vezes, encontramos pessoas de fato preocupadas com o outro. Pessoas que encontraram o bem maior do reino de Deus e querem espalhar esse bem maior. Pessoas que realmente querem partilhar aquilo que possuem de bom, serem fermento na massa.
Acontece que, em ambos os casos, não se obtém muito sucesso. As pessoas não se voltam para Deus nas oportunidades que têm de ouvir falar sobre Ele.
Fiquei pensando a respeito disso e tentando chegar a algumas conclusões. Lembrei-me do filme “sexto sentido”. Embora eu não partilhe da crença que é divulgada nele e, de forma alguma, acredite que as pessoas mortas vagam por aí podendo se comunicar com vivos, acho que esse filme traz uma boa reflexão. Segundo a opinião do filme, quem assiste vai descobri que os espíritos só vêem aquilo que eles querem ver, e ficam presos nessa realidade forjada por eles mesmos, não se abrindo à verdadeira realidade.
Saindo do muros da ficção e aproveitando as analogias, penso que nós, os vivos, somos os que apenas vêem o que queremos ver. Não conseguimos abrir nossos olhos para o mundo que está além da nossa própria bolha.
Não dá para apresentar Jesus para quem não está procurando Jesus. Essa pessoa não vai encontra-Lo. Se encontra-Lo, não irá reconhece-Lo. Mas, mesmo assim, nós, os tidos como convertidos, ficamos tentando fazer Jesus descer goela-abaixo, porque, segundo nós, Ele é a solução para a humanidade.
Acredito que Jesus é de fato a solução, porém, os métodos que utilizamos para apresentá-lo não são eficazes. Tenho pensado que as pessoas encontrarão somente aquilo que elas procuram, porque não estão dispostas a ver o que não procuram. Portanto, como cristãos, temos que ir ao encontro do outro como respostas às suas necessidades. E, inicialmente, em resposta às necessidades reconhecidas pelo outro. Se a necessidade é alimento, ele precisa de comida, não da minha pregação. Se a necessidade do outro é conforto emocional, ele precisa da minha presença, não das minhas verdades. Talvez seja caminhar no parque, andar de Skate no half, companhia para pizza na sexta, e por aí seguem os mais diversos exemplos que você possa imaginar.
Jesus é ofertado, mas não diretamente. Ele visita o outro através da minha postura, através da mudança que Ele fez na minha vida, através da postura cristã que pode ser traduzida de forma a suprir as mais diversas necessidades próprias do ser humano.
Essa postura cristã para outro não pode ser sempre pretexto para evangelização, como se vê por aí. Não deve ser uma postura interesseira. Ela deve ter simplesmente a intenção de ser o cristo para o outro. Ponto. Nada mais. Ser o cristo quantas vezes for necessário, para quem for necessário, sem buscar ganhos secundários ou ter segundas intenções.
No tempo certo as pessoas perceberão que a real necessidade delas não era simplesmente aquilo que elas julgavam necessitar. A pessoa vai perceber o vazio que há dentro dela, cuja coisa alguma da terra é capaz de preencher. Quando ela sentir essa falta, vai começar a buscar, mesmo sem saber do que Ela precisa, buscará tateando pelo escuro, procurando focos de luz. E quando ela começar a buscar vai estar disposta a encontrar. E ela irá encontrar nas pessoas que decidiram ser como Cristo, eis os focos luz. Não existe pessoa no mundo que nunca sentirá essa falta. O ser humano por natureza sente saudades de Deus. E encontrará Deus quando perceber a falta que Ele faz.
Por isso, penso que precisamos ser cada vez mais sinais de Deus, mas sem oferecer Jesus a força. Encontramos meios politicamente corretos de evangelizar se comparados com a catequização dos índios. Embora sutis, continuam sendo uma forma de agressão. Precisamos sair de nós mesmos, ir de encontro às pessoas em suas necessidades. Isso é processo cotidiano: acontece no trabalho, no transito, na escola, na fila do mercado …
É preciso identificar aquilo de que o outro precisa, de forma que não seja contaminado com as nossas necessidades. Às vezes, evangelizamos porque nós temos necessidade de evangelizar, mas será que o outro precisa da nossa evangelização ou (primeiramente) de outra coisa que, no nosso egoísmo, não conseguimos identificar?
Não estou aqui valorizando obras sociais e desmerecendo evangelismos. Não! Porque a missão da igreja é apontar para o reino de Deus. Mas precisamos questionar sobre nossa forma de evangelizar que pode, sem que percebamos, se perder em nossa prepotência, afinal somos portadores da mensagem de salvação do mundo, portadores da verdade das verdades, enviados de Deus, quer risco maior de prepotência do que se valorizar demasiadamente por essa missão?
Oro para que o espírito de Deus nos conceda sempre respostas sábias e eficazes para a atualidade do mundo que precisa, cada vez mais, da presença de Deus traduzida na arte de encontrar o outro.

“Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.” (Mt 25, 35-36)

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