sexta-feira, 16 de abril de 2010

BOAS PESSOAS OU NOVAS CRIATURAS.

Acho que chegou a hora certa para responder a uma pergunta que muitas vezes se coloca: se o cristianis­mo é verdadeiro, por que nem todos os cristãos são evi­dentemente melhores do que os não-cristãos? Por trás des­sa pergunta existe algo perfeitamente razoável e algo que não é razoável de modo algum. O elemento razoável é o seguinte: se a conversão ao cristianismo não melhora em nada as ações exteriores de um homem — se ele con­tinua sendo tão esnobe, tão rancoroso, tão invejoso ou tão ambicioso quanto era antes - devemos, na minha opinião, suspeitar que sua "conversão" foi, em grande medida, imaginária; e a cada avanço que a pessoa pen­sa ter feito depois da conversão original, é essa a prova a ser aplicada. Bons sentimentos, novas idéias e um in­teresse maior pela "religião" nada significam se não me­lhoram nosso comportamento, assim como o fato de um doente se "sentir melhor" de nada aproveita se o termô­metro mostra que sua temperatura ainda está subindo. Nesse sentido, o mundo exterior tem toda razão de jul­gar o cristianismo pelos seus resultados. O próprio Cris­to nos mandou julgar pelos resultados. A árvore é co­nhecida pelos seus frutos; ou, como dizem os ingleses, a prova da sobremesa está no comer. Quando nós, cris­tãos, nos comportamos mal ou deixamos de nos com­portar bem, fazemos com que o cristianismo perca cre­dibilidade aos olhos do mundo exterior. Os pôsteres da época da guerra nos diziam que "Palavras descuidadas custam vidas" [Careless talk costs lives]. Com a mesma verdade podemos dizer que "Vidas descuidadas custam palavras". Nossas vidas descuidadas levam o mundo ex­terior a falar; e nós lhe damos motivos para falar palavras que põem em dúvida a verdade do próprio cristianismo.

C. S. LEWIS - Cristianismo puro e simples. Página 70

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